“A INTENSIFICAÇÃO DA TERCEIRIZAÇÃO É A VOLTA DA ESCRAVIDÃO”
O professor Ricardo
Antunes, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), um dos intelectuais
mais importantes da área do trabalho, esteve em Curitiba no mês de junho para
uma palestra no auditório da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado
do Paraná (FETAEP) sobre “Terceirização e Violência no Trabalho”. O professor
falou para estudantes, profissionais e a todos os interessados da área, que
atinge, inevitavelmente, todos nós.
O evento foi promovido pelo Núcleo de Estudos de Violência Organizacional
(NUEVO), vinculado aos programas de Pós Graduação em Tecnologia (PPGTE) e em
Administração (PPGA) da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR).
Professor Ricardo Antunes |
Terceirização é fenômeno global
O professor Ricardo Antunes começou sua explanação afirmando que
o aprofundamento da terceirização não é apenas uma realidade brasileira, mas um
fenômeno em escala global. Para ele, a externalização da produção é decorrente
dos últimos abalos que os alicerces capitalistas sofreram a partir de 1968.
Desde então, o neoliberalismo ganha força, trazendo a hegemonia do capital
financeiro, a acumulação flexível e a eliminação de sindicatos que não se
alinhasse com os capitalistas. “Aqui no Brasil, governos que não tocam a
cartilha dos bancos são descartados, como aconteceu com a Dilma”, explica.
De acordo com o palestrante, o trabalho reestruturado com
maquinário e desprovido de direitos ao trabalhador é o cenário ideal para o
capitalismo. “O capitalismo pode reduzir ao máximo o trabalho, mas não pode
eliminá-lo”, afirma. Antunes aponta alguns exemplos internacionais de
flexibilização, precarização e terceirização do trabalho:
“Na Inglaterra, existe algo
chamado de contrato de 0h. É um contrato sem tempo determinado. Você só
trabalha e ganha quando for solicitado, mas tem que estar de prontidão o tempo
todo”;
“O serviço de Uber também é um
exemplo. Enquanto táxi paga taxas e impostos, os motoristas de Uber nada pagam
para prestar esse serviço. Está havendo uma ‘uberização’ do trabalho”;
“O Wal Mart, nos EUA,
terceiriza contratos, que nada mais é que a terceirização da mão-de-obra. A
empresa tem de 6 a
9 mil fornecedores que, por sua vez, tem 60 mil empresas. Muitas delas no sul
da China, onde se sabe que há abusos ao trabalhador”;
“O empresário brasileiro vai à China comprar
um par de meias com a marca da Lacoste costurada por U$2 e a vende aqui no
Brasil por R$80”.
Ricardo Antunes acredita que esses exemplos indicam que a
precarização do trabalho é a tragédia do nosso tempo, pois a exceção está
virando a regra. “A intensificação da precarização do trabalho é a volta da
escravidão. Onde não há luta, onde não há resistência, o empresariado se
agranda”, completa.
PLC 30/2015
Especificamente sobre a PLC
30/2015, projeto de lei que permite a terceirização da atividade fim de uma empresa,
o professor enumera o porquê de essa proposta interessar tanto aos empresários
nos dias de hoje. “Primeiro que diminui os custos da força de trabalho, afinal
trabalho é custo para eles. As empresas que contratam serviços de terceirizadas
não pagam direitos trabalhistas, esse problema é das terceirizadas. Por fim, a
crise é a hora em que os empresários arrebentam com a classe trabalhadora”.
Para Antunes, a terceirização é proporcional ao desemprego: quanto mais gente
terceirizada, maior é o desemprego.
A palestra termina com um balanço do governo em exercício de
Michel Temer. “Ao mesmo tempo em que Henrique Meirelles
sinaliza mexer na previdência e na lei da terceirização, Temer não indica que
vai taxar as grandes fortunas e os bancos”, conclui. Em suma, a perspectiva com
Temer é a do fim dos direitos dos trabalhadores, pois, para o professor e
pesquisador, a terceirização é o vilipêndio do trabalho.
Fonte Metal Revista
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