Boulos: a arriscada aposta de Sérgio Moro
Com prisão de Eduardo Cunha, juiz
busca aparentar imparcialidade e justificar novos atos arbitrários. Mas será
seguro brincar com um homem-bomba?
Por Guilherme Boulos
Chegou o dia que o Brasil
tanto esperava e que Brasília tanto temia: Eduardo Cunha está preso.
Tardiamente, é verdade. Contra Cunha, ao menos desde o ano passado, pesam muito
mais do que convicções. Há provas contundentes, como os extratos de contas na Suíça
associados à corrupção na Petrobras.
Que, a esta altura, sua
prisão seja “preventiva” chega a soar irônico, após ele ter chantageado uma
presidente aos olhos do país, ter conduzido o processo de impeachment que a
derrubou e feito ameaças a torto e a direito. O ônus deste atraso cabe a Teori
Zavascki. O ministro do Supremo demorou mais de quatro meses para afastar Cunha
após o pedido do MPF, feito ainda com Dilma no governo, e negou seu pedido de
prisão em junho último.
Cabe agora entender os
impactos desta prisão. Para o governo Temer e para os próximos passos da
Operação Lava Jato.
De um lado, uma eventual
delação de Eduardo Cunha pode ter efeito explosivo para o PMDB e o governo. Ele
já havia apontado para Moreira Franco, homem forte da guarda palaciana,
insinuando que teria provas de seu envolvimento em esquema de propina no
financiamento das obras do Porto Maravilha, no Rio de Janeiro. Mas isso seria
apenas o aperitivo.
É fato corrente nos
bastidores que Cunha e Temer teriam uma parceria na gestão do porto de Santos,
ligada ao grupo Libra – principal doador de Temer e favorecido por Cunha com
uma emenda na MP dos Portos. O atual presidente chegou a ser alvo de dois
inquéritos relacionados ao recebimento de propinas no porto, em 2002 e 2006,
ambos arquivados. Suspeita-se que Cunha tenha gravações de conversas com ele
sobre o assunto.
Se Cunha resolver falar e
tiver condições de apresentar provas – e, é claro, se os procuradores da Lava
Jato aceitarem sua delação – o governo Temer poderá ter seus dias contados.
Neste caso, ironia da história, Temer seria derrubado pelas mesmas mãos que o
colocaram no poder. Sem falar no Congresso, sobre o qual supõe-se que uma
delação do ex-deputado tenha efeitos devastadores.
Mas, de outro lado, a
prisão de Cunha pode ter ainda um impacto diferente, relacionado à ofensiva da
Lava Jato contra o ex-presidente Lula. A obsessão de Sergio Moro e da chamada
“força tarefa” em prender
Lula já se tornou algo notório. Foram com muita sede ao pote,
tanto na condução coercitiva em março, quanto na desastrada denúncia do power
point.
Esses excessos reforçaram
a percepção de seletividade e perseguição da Lava Jato contra Lula,
principalmente ao considerar que a enorme maioria dos presos e indiciados do
núcleo político são do PT. A prisão de Cunha neste momento pode ser entendida
como uma preparação da opinião pública para uma eventual prisão de Lula. Neste
caso, Moro estaria defendendo-se preventivamente da acusação de seletividade.
Nas últimas semanas, uma
enxurrada de novas denúncias da Polícia Federal e do Ministério Público contra
Lula – com base probatória que beira o ridículo – alimentaram boatos de uma
prisão iminente.
Além disso, os que achavam
que Lula era já um “cachorro morto” tiveram uma surpresa com a divulgação nesta
terça (18) de uma pesquisa do Instituto Vox Populi, curiosamente pouco
repercutida na grande imprensa. Mesmo em meio a um prolongado linchamento
público, Lula aprece com 34% das intenções de voto para 2018, mais que o dobro
de Aécio Neves, com 15%.
Por isso, é razoável supor
que aqueles que têm o interesse de destruir a figura do ex-presidente precisem
ir além. No caso de Sergio Moro, as iniciativas anteriores devem ter deixado a
lição de que é preciso ter mais cuidado, calibrar os tempos e a narrativa.
Nesse sentido, a prisão de Eduardo Cunha – necessária e tardia – pode ser
convenientemente utilizada para dourar a pílula de uma arbitrariedade contra
Lula. Afinal, passaria à sociedade a mensagem de que a Lava Jato não é
seletiva, ocultando que dos tucanos citados permaneceram ilesos, bem como a
cúpula do PMDB.
Os dados foram lançados. A
prisão de Cunha foi uma jogada ousada de Moro. Resta saber como sua República
de Curitiba conduzirá os próximos lances.
FONTE. Guilherme
Boulos é integrante da coordenação nacional do MTST.
Faltou o tapete vermelho ou a cor não era boa o bastante, rsrsr ... Quem sabe verde amarelo da CBF?
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