PROPINOCRACIA E GOLPE
Por Marcelo Uchôa
O assombroso espetáculo
proporcionado na última quarta-feira (14) pelos procuradores da república
responsáveis pela operação Lava Jato, transmitida, ao vivo, em majestosa
coletiva de imprensa, que teve como objetivo principal imputar ao ex presidente
Lula a pecha de chefe-mor de todo esquema de corrupção existente no país, a
partir da Petrobrás, via financiamento de partidos políticos, pagamento de
subornos, favorecimento de pessoas, etc, etc, a chamada propinocracia (sic),
fracassou por inteiro quando o ignóbil representante ministerial assumiu não
ter provas do que alegava, mas tão-somente convicção. Gráficos e mais gráficos,
uso e abuso de data show, muita retórica, tudo apresentado em vão, sem servir
para nada, a não ser buscar manipular a opinião pública e alimentar os veículos
de comunicação tradicionais do país, ávidos por divulgar um furo especulativo
no noticiário noturno ou uma forçosa primeira página de jornal no dia seguinte,
com a expressão do ex presidente em agonia.
É inadmissível que, sob a
égide do sistema normativo constitucional de 1988, sobretudo no âmbito do
direito penal, que tem na máxima da presunção de inocência a origem do
benefício da dúvida ao réu, algum ator jurídico ouse imputar formal ou
informalmente a macula de criminoso a alguém, com base em convicção pessoal e,
não, em provas. O
que aconteceu naquela fatídica tarde foi um desacato completo às prerrogativas
fundamentais da pessoa humana Lula, e, em termos gerais, aos cânones constitucionais
fundamentais.
Mais grave é que não foi
uma ação empreendida por um iniciante, um rábula qualquer, do Direito, mas por
um conjunto de procuradores da república, que, anos a fio, vinham (vêm)
investigando a vida do ex presidente, de seus familiares, de pessoas próximas e
distantes, de empresas, através de cruzamento de informações contábeis,
operações financeiras, interceptações telefônicas, bisbilhotando-se até
transações em aquisição de "pedalinho". Não se tratou de um episódio
de inexperiência profissional, porém, de dolo pensado, calculado, que merece o
mais firme e imediato reproche, seguido das competentes sanções administrativas
e penais, da parte das instituições competentes, a iniciar pelo Conselho
Nacional do Ministério Público.
O que se fez na última
quarta com o ex presidente Lula foi o mais completo absurdo, mas o que torna o
cenário ainda mais grave é o fato de que não anda em curso apenas uma operação
para prender o ex mandatário nacional, por mais que ele seja o alvo físico
principal do estratagema. O Brasil está imerso numa situação de golpe
parlamentar-judicial-midiático, e setores do Ministério Público Federal, da
Polícia Federal, e do Judiciário Federal estão no epicentro desta nova
modalidade de golpe de Estado, golpe institucional de Estado, já posto em
prática em outras nações latino-americanas.
Diante do que vem
acontecendo, é possível claramente deduzir que a operação Lava Jato caminha
lado a lado ao golpe, turbinando-o, e, neste sentido, há vários escopos sendo
perseguidos nesta ampla articulação, em que a corrupção, definitivamente, está
longe de ser o maior. O primeiro dos objetivos é, indiscutivelmente, prender o
ex presidente Lula e depois torná-lo inelegível, para evitar-lhe um eventual
retorno à presidência da República, provavelmente carregado nos braços do povo,
após vitorioso sucesso eleitoral.
Abre-se um justo parágrafo
aqui para lembrar aquilo que tantos adversários do ex presidente Lula não
aceitam: o fato dele ser um político, uma pessoa amada no Brasil, por haver conseguido,
dentre outros extraordinários feitos de sua gestão, retirar da extrema miséria,
comprovadamente, mais de 30 milhões de conterrâneos, distribuindo dignidade a
outros milhões de cidadãos e cidadãs das classes A, B e C, sendo
semelhantemente respeitado e admirado no exterior, por haver alavancado a
economia brasileira e impulsionado, como poucas vezes visto na história (talvez
só com Rio Branco e Rui Barbosa, mas em outra linha) o protagonismo
internacional do Brasil, através de uma diplomacia ativa e altiva, que se
dedicou intensivamente aos esforços de paz e à promoção de uma política social
justa, em todos os continentes. Só por tais fatos mereciam ser expurgados da
cena pública nacional esses personagens sórdidos, como os da última quarta,
moralmente medíocres e intelectualmente repugnantes, que se dedicam,
diuturnamente, a vender suas consciências e a maquinar estratégias
maquiavélicas e cabalistas, com o propósito de deturpar, e, sobretudo, manchar,
uma das biografias mais belas já vistas neste país e em todo planeta.
Mas a Lava Jato não se
resume à tentativa de aniquilar o ex presidente Lula. Seu segundo objetivo é
aproveitar e destruir, de vez, o Partido dos Trabalhadores e toda a esquerda, a
partir da destituição da presidenta Dilma do legítimo cargo, mediante traição
espúria e pactos abjetos tramados nos corredores sombrios dos Três Poderes,
para, recompondo as matrizes neoliberais da era FHC, retroceder nas conquistas
sociais, trabalhistas e de direitos humanos, agregadas ao patrimônio jurídico
da classe trabalhadora e dos setores vulneráveis da sociedade, ao largo de
muitos anos e após muita luta.
O terceiro objetivo da
grande operação, diante da tomada, à fórceps, do poder e uma vez sacramentada a
verve neoliberal do novo (des)governo, eis que se põe em prática o mais
antipatriótico de todos os fins do golpe, que é a entrega da soberania do país,
através da venda do pré-sal, das estatais que restam, enfim, do patrimônio
nacional, em benefício do mercado financeiro de Wall Street e do predatório
império norte-americano. Este nefasto projeto, por sinal, está a pleno vapor:
de um lado, da cadeira usurpada do Palácio do Planalto, com o fiel beneplácito
do parlamento, encaminha-se a venda dos bens do país; de outro, o aloprado
chanceler ignora as credenciais apaziguadoras do Brasil, explode a unidade
sul-latino-americana, e muito em breve porá em xeque o sentido da participação
do país nos BRICS, já que sua sina histórica é o alinhamento total às
determinações de Washington.
Em resumo, a horrenda performance
do MPF, que seguramente envergonhou pessoas de bem de dentro daquela própria
instituição fundamental da República, teve como alvo o ex presidente Lula, mas
a estratégia de toda a cadeia de conspirações e maldades está longe de
circunscrever-se à sua órbita pessoal. Trata-se de um golpe imposto contra a
democracia brasileira, contra o Brasil, e, um a um, contra todos os brasileiros
e brasileiras que se enquadram no perfil de trabalhadores ou vulneráveis, de
qualquer natureza, no país.
A propósito, havendo-se
descortinado o desprezível espetáculo ministerial em pleno período eleitoral,
mais precisamente, a três semanas das eleições deste ano, não há como não se
imaginar que outro interesse dos bisonhos personagens do MPF não tenha sido
influenciar nos resultados de outubro, dentro da linha antidemocrática, sádica,
por que não dizer, quase neurótica, de apagar o PT e os partidos de esquerda do
mapa eleitoral brasileiro.
Por fim, à guisa de
especulação, não custa lembrar que a extravagante coletiva ministerial
aconteceu menos de 48h após a cassação do mandado do ex presidente do
legislativo federal, internacionalmente famoso por operar transferência de
divisas patrimoniais à margem da lei. Por que os "bons moços" do
Ministério Público não se ocuparam (se ocupam) de buscar prender-lhe? Ali
provas não faltam, sobram. Que o futuro não demonstre que outro objetivo
daquele excêntrico show de informática tenha sido afastar o outrora "herói
do golpe" dos holofotes da mídia.
Marcelo Ribeiro Uchôa
Advogado e Professor de
Direito/UNIFOR
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirA população esta ocupada demais com o aumento do custo de vida que se reflete no nosso dia a dia ,a eminente tragédia do aumento da carga horária se caso aumentar para 12 horas renderá fabulosos lucros para os empresários que já são exorbitantemente ricos com a mais valia usurpada do povo .
ExcluirA propria CLT conquista de 1937 esta sendo desfalcada quando são direitos adquiridos no período da ditadura .
Nenhuma conquista ocorre da noite para o dia a repressão tinha a dissimulação de criar o eufemismo "desaparecidos" quando na verdade estavam mortos .
Naquela época era proibido pensar e lutar pelo que se acreditava mas o povo lutava mesmo assim , me diga porque povo brasileiro tens a chance de defender o que é seu por direito ,não vives em ditadura e não se manifestam como deviam.
A ditadura perfeita é aquela da qual você esta engendrado no mecanismo mas é ingênuo demais para percerber que eis manipulado.
ExcluirO Brasil imitou o padrão EUA em tudo na psicologia no serviço social e porque não imitou a democracia ?
ExcluirPorque que democracia é essa da qual somos obrigados a votar .
Todos os dias perdemos a esperança e a fé na politica que é desvirtuada pelos ladrões.
Povo brasileiro lembrai que os filhos dessa terra não fogem a luta nem tão pouco temem a própria morte em nome de nossa terra adorada percebam que democracia vem do grego governo do povo então nada mais justo que seja do povo e para o povo então nada mais justo que fazerem largar o osso e verrer os achacadores do poder ,o povo pode e tem em suas mãos o poder só não sabeis como usa-lo .
O Brasil imitou o padrão EUA em tudo na psicologia no serviço social e porque não imitou a democracia ?
ExcluirPorque que democracia é essa da qual somos obrigados a votar .
Todos os dias perdemos a esperança e a fé na politica que é desvirtuada pelos ladrões.
Povo brasileiro lembrai que os filhos dessa terra não fogem a luta nem tão pouco temem a própria morte em nome de nossa terra adorada percebam que democracia vem do grego governo do povo então nada mais justo que seja do povo e para o povo então nada mais justo que fazerem largar o osso e verrer os achacadores do poder ,o povo pode e tem em suas mãos o poder só não sabeis como usa-lo .
A ditadura perfeita é aquela da qual você esta engendrado no mecanismo mas é ingênuo demais para percerber que eis manipulado.
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