O ciclo econômico dos governos PT: chegou-se ao seu esgotamento?
Não é possível analisar a realidade sem conhecer a história. O
Partido dos Trabalhadores (PT) nasceu no final da década de 70 com o
esgotamento do modelo político, mas principalmente econômico da ditadura
militar. Reunindo massas de trabalhadores do campo famintos por comida e com
sede de justiça ao seu redor, assim como os trabalhadores superexplorados da
indústria metalúrgica do ABC paulista e de Minas Gerais, indústrias com capital
multinacional, o PT montou juntamente com intelectuais de esquerda e intelectuais
revolucionários o aparelho que parecia ser a resposta correta, resposta pronta
para arrancar das classes dominantes a sonhada democracia, assim como poderia
ser um trampolim para o mais sonhado ainda socialismo.
Mas, o Brasil, que país é este?
O Brasil tem uma economia fundada
nas bases da superexploração do trabalho em todos os setores. O campo
brasileiro não produz agricultura voltada para abastecer o mercado interno com
alimentos baratos e assim facilitar o desenvolvimento de uma indústria avançada
nacional que possa ser competitiva no mercado internacional e aumentar a renda,
melhorando assim as condições de vida dos trabalhadores. Não, o campo
brasileiro é dominado pelo latifúndio, pela monocultura, e produz matéria-prima
principalmente para ser vendida aos países avançados a preços baratos para que
possa importar os produtos chamados manufaturados, aqueles com maior valor
agregado.
Esta é uma receita de miséria. E
não é uma receita nova. Grosso modo, ela é seguida desde o começo do Brasil
colônia (ver GUNDER FRANK, André: ACUMULAÇÃO DEPENDETE E SUBDESENVOLVIMENTO
1980, editora brasiliense): um país especializado em produzir matérias primas
para exportação e consumir manufaturados importados das metrópoles.
O comércio internacional é marcado
pelas vicissitudes de uma economia de mercado, isto é, oscilação de preços,
guerra cambial. O Brasil é especializado na produção de commodities (minério de
ferro, gado, laranja, soja, cana-de-açúcar, etc.), estas mercadorias tem a
característica de verem seus preços no mercado subir eventualmente, mas com uma
queda vertiginosa após o período do boom. Nos anos 2000, a economia da China
‘‘a nova fábrica do mundo’’ passou a crescer a uma taxa elevada, de dois
dígitos. 70% da economia chinesa é composta por capitais multinacionais
fabricantes de produtos com alto valor agregado. Empresas como Matsushita,
Toshiba, Sanyo, Phillips ou Mitsubishi estão deslocando grande parte de sua
produção à China.
A Siemens produz 14 milhões de
telefones móveis em sua fábrica de Xangai. A Cannon tem deslocado seu quartel
general da Ásia para Beijim. Empresas espanholas como Técnicas Reunidas,
Nutrexpa, Alsa, Fermax, e Indra têm-se posicionado com êxito neste mercado.
Economias altamente
industrializadas, de tecnologia avançada, precisam de bastantes matérias-primas
para alimentar seus trabalhadores, para produzir os seus bens de capital e para
usar como bens intermediários na produção de mercadorias com maior valor
agregado. O fato de a China ter, entre 2007 e 2011, crescido a uma taxa média
de 10,10% ao ano favoreceu as exportações brasileiras de maneira excepcional, o
que fez crescer a renda nacional e permitiu aos governos petistas a ampliação
dos programas sociais, uma maior reserva de divisas internacionais e até certo
aumento de investimento em áreas sociais. O Brasil viveu durante cerca de uma
década o estado de bem-estar social, que em nada se compara com aquele vivido
pelos Estados Unidos nos pós-guerra ou por alguns países da Europa Ocidental em
termos de qualidade de vida, mas que fez diferença na vida cotidiana de um país
miserável.
O Brasil deixou de ser
subdesenvolvido e passou a ser um país em desenvolvimento, ou emergente? Não. O
Brasil ainda é um país miserável, subdesenvolvido, e com uma economia altamente
dependente. O que ocorreu durante os anos de governo petista foi uma ‘‘digestão
moral da probreza’’ (Ouriques, Nildo). A China é um importante fator dentre
outros que contribuíram para que este quadro se formasse. Não enfatizarei
outros pela limitação própria ao tamanho do texto.
O fato é que o trabalhador médio
brasileiro continua recebendo um salário abaixo do valor da sua força de
trabalho. Segundo o DIEESE o salário mínimo necessário para sustentar uma
família de 4 pessoas deve ser de R$ 3.240,27 – 4,11 vezes maior do que o
salário mínimo hoje vigente - R$ 788, dados de 2015. A dívida pública
brasileira consome anualmente quase metade do orçamento da união (gasto
corrente), e só aumenta, pois os investimentos de curto-prazo a uma taxa de
juros exorbitante para o padrão do mundo inteiro são lucro certo para os
rentistas. Enquanto isso, o Brasil não tem uma indústria nacional forte,
exporta grande parte dos lucros aqui auferidos pelas empresas de capital
nacional e multinacional, continua dependente no quesito tecnologia, e não dá
sinais de que irá mudar nestes aspectos tão cedo.
A crise vivida hoje deve-se, entre
outros fatores, à desaceleração do crescimento chinês. Como era de se esperar,
uma demanda menor por commodities no mercado mundial, bem como uma concorrência
maior, fazem cair o preço destes produtos. Como falei acima, depois da alta nos
preços a tendência é de uma queda vertiginosa. Por isso é que a receita do bolo
da economia brasileira é uma receita de miséria. Conjunturalmente passou-se por
um ‘‘bom período’’ (melhor para os banqueiros, os latifundiários e os grandes
empresários do que para o trabalhador, é verdade), mas estruturalmente não se
mexeu nas bases que sustentam a economia dependente capitalista brasileira.
Para subverter essa base, mudar o paradigma, sem dúvida alguma é necessária uma
ação muito mais radical do que eleger aqueles que serão os próximos a continuar
de maneira mais ou menos, ou até igual, a administrar o caos da economia e da
sociedade brasileiras.
"50 anos em 5" foi só um lema. Interpretam tão literalmente a ponto de querer que o PT condensasse 500 anos em 15.
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