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Ditados animais!


Por Mouzar Benedito.

Dar opinião está muito complicado hoje em dia. Se alguém discorda, não argumenta. Xinga, ameaça, quer até matar quem pensa diferente. Na política, então, a coisa piorou demais. Tem gente raivosa como nunca. Por isso, aconselho a petista que está entre tucanos ou a tucano que está entre petistas: “Em festa de jacu, nhambu não pia”.

Há muitas situações do nosso dia a dia em que um ditado popular se encaixa direitinho, para o bem ou para o mal. Os animais aparecem em muitos desses ditados. Talvez milhares. Selecionei alguns deles e apresento aqui.

Um conterrâneo separado da mulher, um dia foi flagrado saindo de madrugada da casa da “ex” — tinha ido transar com ela. — Falou para os amigos que o gozavam por isso: “Tatu esperto não esquece buraco antigo”.

Mas tem também um ditado que recomenda não querer “matar a saudade”, principalmente quando a “ex” pode ter arrumado um namorado encrenqueiro: “Buraco velho tem cobra dentro”.

Falando em buraco velho, bichos e animais aparecem juntos em vários ditados, às vezes positivos, às vezes gozativos, às vezes críticos. O mais manjado é aquele para velho com namorada nova: “Pra burro velho, o negócio é capim novo”. Realmente, o que “levanta a moral” de homem mais velho é moça nova. Bobagem querer que se excite com mulher da sua idade. Eu mesmo digo que já passei da idade de namorar mulher da minha idade. Vale pra mulher também: todo jovenzinho que se excita facilmente deveria ter o compromisso de namorar uma mulher bem mais velha.

Mas não é bom ser muito assanhado (vale pra jovem, também): “Macaco que pula muito quer chumbo”.

Depois de um certa idade é difícil abrir a cabeça para certas novidades, ou, mesmo abrindo, há uma grande dificuldade para aprender novas tecnologias, etc. Nesta caso, valem os ditados “Burro velho não toma ensino” e “Papagaio velho não aprende a falar”. Mas tem situações em que se valoriza muito a experiência: “Macaco velho não mete a mão em cumbuca”, “Macaco velho não trepa em galho seco” e “Cachorro velho não late à toa”.

Porém, quando o sujeito já “não serve pra nada”, dizem: “Burro velho só morre em pasto de gente besta”.

E pessoas em fases de azar? Tudo que fazem, dá errado. Pra esses há uns ditados manjados: “Urubu quando está caipora, o de baixo caga no de cima”,”Urubu, quando anda caipora, ao peidar lhe rasga o cu”, “Urubu, quando anda caipora, não há galho de pau que o aguente” e “Quem anda caipora, até cachorro lhe mija na perna”.

Pra puxa-saco, pode-se recomendar que modere um pouco, dizendo: “Cão que muito lambe, tira sangue”.

Uma mulher que, na juventude, foi “pinta braba”, como se diz no interior, quer dizer, que aprontava muito, cobrando pureza e virtudes da filha, ouviu o seguinte ditado: “Vaca velha parece que nunca foi bezerra”.

Para um sujeito sem-vergonha, ruim, que lidera um grupo fiel a ele: “Onde vai o cachorro, vão as pulgas”.

Tem gente que vai pedir um favor, mas chega arrogante, querendo exigir do outro. Para esse caso, há um ditado recomendando que seja discreto, gentil: “Canário na muda não canta”.

Falando nisso, por mais que o sujeito seja arrogante ou valentão, lembramos, além do já citado “Em festa de nhambu, jacu não pia”, que o melhor é se comportar de acordo com o lugar em que se está, como diz o ditado “Em Roma como os romanos”. Mas como nossos roceiros dificilmente vão a Roma, preferem o ditado “Em terra de sapos, de cócoras com eles”. Ou: “Boi bravo, em terra alheia, se faz de manso”.

Para pessoas que não percebem que precisam se unir para ter força e vencer alguma luta, há o tradicional “a união faz a força”, mas um ditado caipira é mais divertido: “Caititu fora da manada cai no papo da onça”.

Quando um sujeito ruim é vítima de uma ruindade de outro pior ainda, o ditado apropriado é “A cobra maior engole a menor”. Aliás, quando dois sujeitos ruins têm algum atrito, o melhor é não tomar partido de nenhum deles, lembra o ditado “É cobra comendo cobra”.

E se você percebe que alguém lhe prepara uma armadilha e o sacaneia antes? Diga para seu desafeto: “Peixe esperto come a isca e caga no anzol”.

Uns ditados são muito manjados. É o caso de pessoas que ficam cautelosas demais, depois de se darem mal em alguma coisa. Para elas há dois ditados: “Gato escaldado tem medo de água fria” e “Cachorro mordido de cobra tem medo de linguiça”.

Para os que ficam “valentes” quando um desafeto está derrotado pelos outros e não pode fazer nada contra eles, também há ditados tradicionais: “Boi atolado, pau nele”, “Chutar cachorro morto” e “Depois da onça morta, até cachorro mija nela”.

Quando uma pessoa está sendo atacada por todos os lados, dizem que ela está “Como barata em galinheiro”.

Para quem “herda” qualidades ou defeitos do pai, pode-se dizer: “Filho de peixe, peixinho é”, “De cobra não nasce passarinho” ou “Filho de gato mata rato”.

Para pão-duro, há muitos ditados. Um deles: “Parece que tem escorpião no bolso”.

Quando alguém se dá mal em alguma situação, se diz que ele “Deu com os burros n’água”, ou que “A vaca foi pro brejo”. Mas se ele se dá bem, diz que “Está com o burro na sombra”.

Ouvi em algum lugar que não me lembro, um ditado sobre caras que fingem ser ingênuos para poder dizer coisas inconvenientes: “Fazer-se de burro, pra poder dar peidos diante das moças”. Mas fingir-se ingênuo demais pode ser perigoso: “Quem se faz de ovelha, o lobo o come”.

Uma coisa cada vez mais comum que vemos na política, por exemplo, é gente que considerávamos boa se enturmando com safados e ficando igual a eles. E se ferrando. Podemos lembrar aos que fazem isso: “Quem se mistura aos porcos, farelos come”.

E aquele sujeito que chega na sua casa e pede para se hospedar um ou dois dias, mas vai ficando… Para ele, pode-se dizer: “Hóspedes e peixes, com três dias fedem”.

Para falar de um desafeto, de pessoa com quem você não convive, diga: “Nossos cachorros não caçam juntos”.

Você, moça que tem um filho e arranjou um namorado que o maltrata. Fale para ele: “Quem ama a cabra, ama o cabrito”.

Tem o tipo que se coloca sempre em primeiro lugar. Para ele, diga: “O burro sempre vai na frente”.

Se algum sujeito insistir em lhe dar conselhos que você não quer, diga logo: “Quem anda pela cabeça dos outros é piolho”.

Trambiqueiros, como falar com eles? Aí vão duas sugestões: “Manoel, Manoel… não tens abelhas e vendes mel” e “Quem não tem cabras e cabritos vende, donde lhe vem não se entende”.

Tem gente muito cheia de certezas no Brasil de hoje, e já vi cara “mais zangado do que caititu batendo queixo”. Mas tem quem ache que é um tempo de dúvidas, e não sabe que conclusão tirar sobre o que vem por aí. Está “mais perdido do que cachorro que caiu de caminhão de mudança”.

Falando sobre o que vem por aí, lembro uma situação parecida com a de hoje que terminou em ditadura. Aí e entra um ditado com o ouriço. A gente sabe que ao nascer os filhotes não têm espinhos, são pelos que endurecem depois, mas um ditado ignora isso. Um sujeito que se opôs à ditadura dizia que, por isso, “sofreu mais do que mãe de ouriço”. E outro foi além: “Sofri mais do que mãe de ouriço… quando o filhote nasce de atravessado”. Cruz credo!

Mudando de assunto, tem o sujeitinho que parece todo ingênuo e mesmo atrapalhado, mas a gente descobre que ele conseguiu namorar uma mulher bonita e cobiçada? “Boi sonso é que pula cerca”.

Bom… Já que falei em boi, vamos terminar com um ditado em que ele é citado, dando vivas à liberdade: “Boi solto lambe-se todo”.

***


Mouzar Benedito, jornalista, nasceu em Nova Resende (MG) em 1946, o quinto entre dez filhos de um barbeiro. Trabalhou em vários jornais alternativos (Versus, Pasquim, Em Tempo, Movimento, Jornal dos Bairros – MG, Brasil Mulher). Estudou Geografia na USP e Jornalismo na Cásper Líbero, em São Paulo. É autor de muitos livros, dentre os quais, publicados pela Boitempo, Ousar Lutar (2000), em co-autoria com José Roberto Rezende, Pequena enciclopédia sanitária (1996) e Meneghetti – O gato dos telhados (2010, Coleção Pauliceia). Colabora com o Blog da Boitempo mensalmente, às terças.

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