Conservadorismo, interesses econômicos escusos e misoginia - As dimensões do golpe de 2016 para as mulheres
POR. Francisca Martír da Silva*
Escrever sobre fatos que nos tomam
os dias correntes é um desafio tão grande quanto o de atuar sobre esses fatos
na esperança de compreendê-los, contorná-los, modificá-los e vencê-los. O golpe
de Estado que ora vivemos no Brasil percorre o cotidiano político e social em
suas incansáveis instâncias, conduzido por personagens de condutas quase
inverossímeis, mas absurdamente reais. A ideia de registrar esse momento
histórico em escritos de diversos olhares é maravilhosa e a tarefa de
participar desses escritos cria em primeiro momento a ansiedade que, suponho,
deve ter o fotógrafo no exato segundo que capta um flagrante imprescindível
para a retina não perder a imagem fugidia e transitória.
A palavra golpe prenuncia certa
carga dramática, seja porque concretamente tem a força de alterar a realidade
imediata, seja porque produz a incerteza do futuro. Nesse sentido, qualquer
texto analítico sobre o golpe que hoje se perpetra no nosso País que, até
então, caminhava na construção da democracia e da regulação de direitos sociais
e de garantias individuais, não poderá ter a pretensão de carregar assertivas,
verdades ou prognósticos indiscutíveis, mas não pode fugir ao intento de ser um
ponto de vista a ser considerado no processo coletivo de produção da história.
Dito isso, ressalto que o presente texto não
se prende a metodologias acadêmicas, nem tampouco se propõe a fazer um relato
de fatos cronologicamente organizados. Do mesmo modo, advirto sobre a
possibilidade de eventuais lacunas ou imprecisões. Todavia, vamos lá ao desafio
de registrar aqui o que tem sido a experiência de partilhar da resistência ao
golpe de 2016, no Ceará, como mulher, na militância feminista. Não se trata de
um relato pessoal, posto que reparto essa experiência com a ação e o pensar das
incansáveis companheiras do movimento MULHERES DO CEARÁ COM DILMA, ponto de
partida que se expande na perspectiva de contemplar, também, o que tem sido a
militância de tantas outras companheiras, organizadas e atuantes em diversos
outros movimentos feministas. Nesse sentido, o golpe e seu enfrentamento são
abordados neste textosob o ponto de vista das mulheres, de nossas lutas. O que
temos a dizer certamente retrata como nos sentimos atingidas e quais papéis
queremos exercer na trajetória da resistência democrática.
Um
golpe de Estado não é um fato que eclode de uma hora para outra, como se fora
obra do acaso. Há antes do momento em que torna evidente um conjunto de fatores
produzidos por seus agentes, ou dos quais esses tiram proveitos. Assim foi o
golpe de 2016 no Brasil, urdido antes no silêncio da costura de interesses
eleitorais, econômicos e políticos de frontal oposição ao projeto de governo
iniciado com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência e continuado
por sua sucessora, Dilma Rousseff.
Com
a ressalva da possível controvérsia, o golpe, que neste ano de 2016 se
concentra na condução do impeachment da primeira Presidenta do Brasil, Dilma
Rousseff, germinou suas primeiras sementes nas chamadas jornadas de junho de
2013, marcadas por movimentos de ruas que cresceram a partir da luta por
transporte público e mobilidade, sob a liderança do Movimento Passe Livre,
levados inicialmente por bandeiras de caráteres emancipatórios e por mudanças
políticas sistêmicas, mas que no seu percurso coexistiu com um polo antagônico,
de posicionamentos politicamente conservadores e em alguns casos com opções
pelo viés da violência.
Essa
polarização é exemplificada pela professora catarinense IlseScherer-Warren[i]pelo antagonismo entre as
bandeiras do MPL e dos grupos de jovens médicos que se opunham a uma política
pública (Mais Médicos) a favor das populações carentes, por defender o status quo e interesses
corporativos.
Rebuscando
superficialmente os fatos e notícias daqueles dias de 2013, veremos que em
certa altura a luta de caráter democrático e de insubordinação ante as
diferenças e injustiças sociais sofre uma interferência da mídia e de setores
da direita que realizam um giro tático, passando da demonização para a
tentativa de capturá-lo. Essa apropriação do movimento é ilustrada com bastante
clareza no artigo Primavera Brasileira ou golpe de direita[ii], publicado no dia 25 de
junho de 2013 no Blog Outras Palavras, em que afirma:
Procuram
esvaziar a reivindicação de direitos e igualdade (ou seja, seu caráter
“perigoso” de crítica social) e suscitar, em seu lugar, a luta genérica “contra
a corrupção”. Ao fazê-lo tentam, ao mesmo tempo, voltar o movimento contra os
governos de esquerda. Tirá-los do poder, seja de que modo for, é algo que, nos
últimos dez anos, nunca saiu da agenda da direita.
A Na mesma época (02/07/2013) o jornal Le Monde Diplomatique
Brasil, em reportagem especial, publicou a opinião de lideranças e de
cientistas políticos, a exemplo de Pedro Stédile, do MST e do historiador
Lincoln Secco, da Universidade de São Paulo (USP). Ambos, para dar o exemplo,
já denunciavam a que, a despeito da força das redes sociais e da tentativa de
dar cunho democrático às manifestações, predominava no noticiário nacional o
conteúdo do ‘pensamento político’ fornecido pelo capital monopolista investido
nos meios de comunicação.
Outro
fator que evidencia o quanto a direita e a mídia monopolista se apropriaram dos
movimentos de junho de 2013 e avançaram na desconstrução da opinião pública
favorável ao governo democrático da presidenta Dilma Rousseff foi a queda
vertiginosa da avaliação positiva do governo, que despencou rapidamente, segundo
os institutos de pesquisa de opinião. Se em março de 2013 a presidenta contava
com aprovação recorde dos brasileiros (79% segundo pesquisa CNI/Ibope,
divulgada em 18/03/2013), em junho essa aprovação caiu para apenas 30%,
conforme pesquisa Data folha, pulicada pelo jornal Folha de São Paulo em
08/07/2013.
Uma
vez iniciada essa guinada à direita, sua força foi arregimentando setores
ultraconservadores declaradamente fascistas, cuja visibilidade, aliada à
manipulação das informações reais, pelos meios de comunicação, impediu que os
setores democráticos e à esquerda tivessem forças para fazer repercutir sobre a
opinião pública a postura positiva da presidenta da República, que passou a
receber os movimentos que iniciaram os protestos (Movimento Passe Livre,
PeriferiaAtiva e os sem-teto ligados ao MTST) e lançou, em reunião com
governadores de Estado e prefeitos das capitais, um movimento inesperado de
congelamento dos preços das tarifas de transportes públicos.
No
âmbito político Dilma Rousseff sugeriu pactos pela Educação, Saúde, Mobilidade
Urbana e Responsabilidade Fiscal. Mais importante: defendeu a ideia de um
plebiscito sobre a convocação de uma Assembleia Constituinte, encarregada de
reformar o sistema político. Essa última proposta enfrentou reação imediata de políticos conservadores e
ministros do Supremo Tribunal Federal, o que implica dizer que tanto entre as
elites quanto no próprio Congresso Nacional rege a hegemonia do poder econômico
que não quer rever um sistema que lhe dá enorme influência sobre as decisões
políticas.
O
quadro de decomposição da força política até então assegurada pelos dois
sucessivos governos petistas e de seu programa democrático e social, iniciado
na ‘jornadas de junho de 2013’ perdurou mesmo após o esvaziamento dos movimentos
de rua, como ação contínua no Congresso Nacional, através da migração da base
governista para a oposição, e da mídia, através da construção de uma narrativa
política de propagação do pensamento conservador e de clara manipulação de
dados e fatos que pudessem soar positivos ao primeiro governo da presidenta.
Apesar
disso e de todas as adversidades da campanha presidencial seguinte, Dilma
Rousseff consegue sua segunda eleição para presidência em outubro de 2014.
Diante do resultado das urnas a direita, que acalentara a esperança de vitória
eleitoral até os últimos momentos, fez eclodir o ovo da serpente do golpe, que
já esperava no ninho desde as ‘jornadas de 2013’.
A
convicção de que o golpe de 2016 no Brasil começou a ser gestado antes, com
evidências de seus primeiros fatos em 2013, pertence tanto ao Movimento
Mulheres do Ceara com Dilma, quanto nos pertence a experiência histórica do
protagonismo de uma de suas primeiras resistências, ainda em junho de 2014.
Desde então somos parte dessa caminhada coletiva e nela há o propósito de
seguir até que a democracia seja restaurada.
Do
mesmo modo que esse golpe de Estado foi fomentado e gestado em processos
anteriores à admissibilidade do impeachment nas duas casas legislativas, a sua
resistência também foi se forjando em momentos antes. A esse exemplo afirmamos
que a as mulheres do Ceará se insurgiram contra as ações golpistas já em 2014.
O
movimento Mulheres do Ceará com Dilma nasceu em meados do mês de junho de 2014,
impulsionado pela indignação provocada pelos insultos sofridos pela presidenta
Dilma Rousseff durante o jogo de abertura da Copa da Fifa, em São Paulo, quando
setores da classe média e alta, embalados pelo avanço de suas posições
anti-governistas e antidemocráticas, diante das câmeras de órgãos de imprensa
do mundo inteiro gritaram palavras de baixo calão contra a chefe da Nação sede
do evento.
A
indignação tocou mulheres com histórias de vidas comprometidas com as lutas
sociais, por direitos e de trajetórias feministas que, embora tivessem até ali
acompanhado a conjuntura política que se desenhava, não atuavam nos mesmos
espaços. Mas, o sentimento comum nos levou à decisão de denunciar a ofensa. Dos
primeiros contatos pelas redes sociais ao encontro para lançamento do manifesto
de apoio e solidariedade à Dilma, no Restaurante Maria Bonita foram poucos
dias. Ali, e por aquela razão, se acendeu a fagulha que daria ânimo ao
protagonismo político dessas mulheres que até hoje se juntam e se organizam em
ações cotidianas de enfrentamento ao golpe.
A
solidariedade, Enquanto os jornais noticiavam tal fato como demonstrativo da
insatisfação política com a presidente, mulheres com histórico de atuação nas
lutas políticas sociais e feministas. Naqueles dias, de afogadilho, mas cheias
de emoções e de consciência do papel histórico das mulheres escrevemos em um
manifesto que replicou nossa indignação:
Pronunciaram o nome Dilma, mas a indignação calou
dolorosamente na alma de todas nós mulheres, porque sabemos o significado
simbólico e concreto do machismo, da violência sexista e da força opressora do
patriarcalismo, suporte ideológico da dominação, contra a qual lutamos e
lutaremos sempre.
Precisamos estar vigilantes para que ofensas
verbais desrespeitosas, como as dirigidas à presidenta Dilma Rousseff, não se tornem
uma rotina cada vez que se queira criticar uma mulher que exerce um cargo de
poder. Ou mesmo mulheres comuns, trabalhadoras que, no seu dia a dia são
vitimas de piadinhas de mau gosto, assédio sexual no trabalho e nos transportes
coletivos, bem como de estupros.
Nós mulheres sentimos a dor da humilhação contra
Dilma, mas nos fortalecemos em todas as lutas que travamos junto com o povo
brasileiro por democracia. Temos ainda quente a memória da resistência
contra a ditadura militar, para a qual a nossa Presidenta entregou sua
juventude. Nossas conquistas nos são caras e valiosas e por elas nos levantamos
em solidariedade à essa mulher.
De lá pra cá, não sossegamos. A carga histórica milenar
que nos impôs a exclusão dos espaços de decisão e de poder, mas alimentadas
pela convicção de que não se constrói qualquer horizonte de emancipação
democrática e social sem nossa presença, nos demos o desafiante papel de
enfrentar o golpe em todas as suas dimensões e com todas as nossas forças.
Somos diversas em nossas escolhas políticas, de gerações
diferentes, de origens e posições sociais variadas, mas unitárias na
perspectiva da democracia e da liberdade como valores históricos
imprescindíveis.
Para as brasileiras os governos de Lula e Dilma
engendraram políticas públicas importantes, pois todas as políticas sociais,
como Programa Bolsa Família, de distribuição de renda, Programa Minha Casa
Minha Vida, de habitação e Programa Nacional de Agricultura Familiar, voltado
para a população do campo, estabeleceram prioridades para as mulheres, com
repercussão direta nas condições materiais de nossas vidas. O foco dessas
políticas nas mulheres resultou do compromisso de ambos os governos petistas de
intervenção na condição econômica da população feminina, tendo em vista que
desde a década de 1990 estudos já demonstravam dois fatos diretamente ligados à
exclusão e à opressão de gênero: a) as mulheres como maioria da população pobre
ou extremante pobre e b) as mulheres pobres majoritariamente na condição de
chefes de famílias.
Na mesma linha, o governo Lula, inicialmente, e o governo
Dilma em maior grau criaram e fortaleceram espaços institucionais de
planejamento e execução de políticas para as mulheres, em que se destaca
sobremaneira a criação da Secretária Especial de Políticas para as Mulheres,
com status de Ministério, com atuação sobre vários aspectos através de diversas
políticas públicas de inclusão social, política e econômica das mulheres em
todas as regiões, e, de modo muito especial as políticas de enfrentamento da
violência de gênero, com a instituição de equipamentos e serviços voltados para
o acolhimento, a proteção jurídica e o empoderamento de vítimas das diversas
formas de violência doméstica e sexual.
Para as mulheres o Golpe que se vai intentando em largos
passos contra a Presidenta Dilma tem contornos que nos levam a enfrentá-lo com
determinação, sendo evidente o seu
caráter misógino, pois em muitos casos o fato de ser mulher, faz da presidenta
alvo de insultos machistas. Basta lembrar inúmeras insinuações por parte da
imprensa e de políticos de direita, de que a presidenta não teria, por ser
mulher, a capacidade de enfrentar os desafios da Nação.
Além disso, durante todo o processo Dilma Rousseff tem
sido alvo de ataques grosseiros, como o já mencionado aqui, ocorrido na
abertura da Copa de 2014, culminando com o mais cruel de todos, que foi a
circulação de um adesivo de veículos em que a Presidenta aparecia em posição
humilhante e característica de violência sexual. Diante de tudo isso a nossa indignação
se constituiu também em lutas políticas.
Todo espectro político que sustentou o golpe foi
sustentado pelo discurso neoliberal de redução do Estado e, portanto, de
contraposição às políticas sociais, tendo como principal suporte o programa
golpista intitulado “ponte para o futuro”, cujo pressuposto fundamental é o
desmonte de todas as políticas de inclusão social, o que atinge diretamente as
mulheres pobres e trabalhadoras.
A constatação do caráter misógino do golpe e de seu
programa político se deu mais fortemente ainda nas primeiras ações do governo
interino capitaneado por Michel Temer, instaladas logo após a primeira sessão
do Senado Federal, que por maioria simples de votos decidiu pela recepção do
relatório de incriminação da Presidenta Dilma Rousseff, por crime de
responsabilidade. Esse governo, sem legitimidade popular e mesmo contrariando a
Constituição Federal, alijou toda e qualquer participação de mulheres, bem como
extinguiu o espaço institucional de políticas para as mulheres, restando apenas
um apêndice sem a menor importância, vinculado ao Ministério da Justiça.
Desde aquela fatídica noite da primeira sessão do Senado
o golpe ganhou tenebrosas forças sobre todos os direitos já conquistados, mas
sobre as mulheres seus efeitos são devastadores, por isso a luta se
intensificou e dela vimos participando ativamente. Em diversos agrupamentos as
mulheres se organizam e resistem, realizam atos específicos, se juntam e
fortalecem as mobilizações dos movimentos sociais e populares diversos.
As Mulheres do Ceará com Dilma, que já estavam juntas e
organizadas desde 2014 intensificaram o movimento e passaram a fazer reuniões
semanais, participam das articulações e reuniões das frentes de resistência,
sobretudo da Frente Brasil Popular. E nesses tempos de tecnologia das
comunicações, se inserem ativamente nas redes sociais, e, a despeito de todas
as dificuldades e limitações, são presença marcante em todos os momentos de
lutas de resistências ao golpe.
Fortaleza
é a base do Movimento Mulheres do Ceará com Dilma, mas se há deslocamento da
cena política lá estamos nós, como em Brasília por ocasião da sessão da Câmara
Federal e da Sessão do Senado, como testemunhas da história e da luta
democrática e feminista. Da mesma forma, se há um deslocamento por motivo de
viagem pessoal de qualquer uma de nós, lá está a presença do movimento, seja em
atos políticos de outros Estados, seja em locais públicos, em que a camiseta
lilás e a bandeira, que pode ser até solitária, aparece.
Estivemos
na histórica 4ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, evento que
real e simbolicamente marcou a resistência das mulheres contra o golpe, por
fatídica coincidência, na mesma data em que o Senado recebeu o processo de
impeachment contra a Presidenta. Na ocasião Dilma Rousseff pronunciou o seu
discurso mais emocionado e embalado pelas convicções de que às mulheres são
reservadas as maiores lutas, pois a herança patriarcal insiste em nos reservar
a opressão e exclusão.
Ocupamos
em 12 de maio a Esplanada dos Ministérios, nos juntando ao grito de resistência
de todos os movimentos sociais que não se calam nem se calarão, porque chamam
para si a responsabilidade de lutar por democracia e de resistência a qualquer
ação em sentido contrário, como é o caso desse golpe que nos atinge nesses dias
correntes. Naquela noite não apenas marchamos e gritamos nossas palavras de
ordem, enfrentamos e fomos atingidas pela repressão policial fortemente
organizada como instrumento dos golpistas.
Não se registra nem um ato relacionado à resistência ao
golpe sem que lá sejamos vistas com nossas blusas lilases, nossas faixas e
bandeiras, as já conhecidas Mulheres do Ceará com Dilma, tão abnegadas e
aguerridas como devem ser as pessoas que se sublevam contra o que ameaça a
perspectiva de um país democrático e socialmente justo.
Não
por acaso, muitas de nós, como Ângela Uchoa, Tereza Cavalcanti, Nazaré Antero,
Margarida Pinheiro, foram resistentes e lutadoras contra a ditadura civil e
militar instaurada com o golpe de 1964 e já trazem em si a marca da coragem e
da ousadia, pois enfrentaram prisões, perseguições e exílio e suas histórias de
vida inspiram as demais.
O
Movimento Mulheres do Ceará com Dilma tem como sentido fundamental de sua
existência e ação, a resistência feminista ao golpe, com a compreensão de que o
centro da defesa é o governo da primeira mulher eleita Presidenta da Brasil,
como expressão da vontade da maioria dos/as brasileiros/as e com base na
convicção de que essa mulher quebrou todos os paradigmas da tradição política
em nosso país, até bem pouco tempo pautada pelo patrimonialismo e pela
apropriação do Estado para interesses das classes dominantes.
Ao
caráter misógino e machista desse golpe, somam-se os interesses particulares de
dominação do Brasil em detrimento dos direitos e interesses da maioria do povo.
Se em certo momento se construiu uma narrativa de propaganda anticorrupção, com
um aparato midiático diariamente despejado
em noticiários tendenciosos e propositadamente montados, a essa altura
dos acontecimentos essa narrativa já caiu por terra, pois embora a imprensa
faça questão de esconder, já se desmascaram os golpistas por serem esses os
reais criminosos e corruptos.
Nesses dias de 2016, que na verdade já vinham gestados
com o golpe desde antes, a cada acontecimento somos sobressaltadas pelas
mentiras que vilipendiam a honra e a dignidade de nossa Presidenta Dilma, somos
atingidas pela violência e pelo fascismo do espectro político de negação de
direitos que nos são tão caros, como o respeito e a liberdade. Mas nada abala a
esperança quando a resistência é forte e obstinada. E assim queremos ser
forjadas. Assim nos construímos cotidianamente ante o desafio de vencer muitas
vezes até a tristeza que nos assola vez por outra.
A resistência ao golpe tem se mostrado como a única saída
para quem não arrefece da esperança de um país socialmente justo e
culturalmente diverso; como único meio de dar seguimento às políticas públicas
de direitos para as mulheres na perspectiva de ruptura com a milenar opressão
que nos atinge; como exata medida de se reconstituir a verdade e resgatar a
dignidade política da mulher que ousou quebrar a hegemonia masculina na
política e alcançou o cargo mais importante da República.
A resistência das Mulheres do Ceará com Dilma ao golpe é
cotidiana, contínua, intermitente. É aliada e em unidade com os demais
movimentos e se embasa nos pressupostos do feminismo, da democracia e da
justiça social como valores que nos dão marca, nos forjam e nos orientam. Dessa
luta não haverá trégua, seja qual for seu resultado mais imediato, porque o
desafio que nos mobilizou já nos abre os horizontes até onde for preciso ir. À
luta.
Referências:
i MANIFESTAÇÕES DE
RUA NO BRASIL 2013: ENCONTROS E DESENCONTROS NA POLÍTICA. Disponível em www.scielo.br/pdf;
ii PRIMAVERA
BRASILEIRA OU GOLPE DE DIREITA. Disponível em Blog Outras Palavras –
Comunicação compartilhada e pós capitalismo, por Antonio Martins.
Sobre a autora:
Advogada de causas sociais, mestra em
Avaliação de Políticas Pública/UFC, professora de Direito e Legislação Social
no Curso de Serviço Social das Faculdades Cearenses; feminista.
[i]
MANIFESTAÇÕES DE RUA NO BRASIL 2013: ENCONTROS E DESENCONTROS NA POLÍTICA.
Disponível em www.scielo.br/pdf;
[ii]
PRIMAVERA BRASILEIRA OU GOLPE DE DIREITA. Disponível em Blog Outras palavras –
Comunicação compartilhada e pós-capitalismo, por Antonio Martins.
Sobre
a autora:
Advogada de causas sociais, mestra em Avaliação de
Políticas Pública/UFC, professora de Direito e Legislação Social no Curso de
Serviço Social das Faculdades Cearenses; feminista.
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