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Porque analistas, jornalistas colunistas e quaisquer especialistas são incapazes...

 O texto abaixo fala das manifestações corridas em junho de 2013, ocasião em que passou de mão em mão nas mídias sociais e hoje a revista INSTIGADA REPASSA aos nossos pares, no intuito de promover o debate e reflexão. Tenham uma boa leitura, instiguem-se.


30 de junho de 2013 às 21:35
Porque analistas, jornalistas, colunistas e quaisquer especialistas são incapazes de alcançar o sentido do levante que experimentamos hoje nas terras da Pindorama (que havemos de renomear), terras que se encontram sob ocupação do Estado brasileiro

Ilana

Porque a negação da não-vida, negação do domínio da ordem das coisas só pode ser luta e festa se se recusa a se converter em instituição, em programa, em partido! Autogestão generalizada da vida contra o mercado e o Estado. Eis o que pode ser o programa da crítica prática do mundo feita pelxs vândalxs e baderneirxs . Escrevamo-lo juntxs!

A todxs xs vândalxs e baderneirxs, uma proposta, talvez longa demais, talvez demasiado rápida mas, em todo caso, apenas uma forma de dizer do como tenho experimentado e falado o que tenho vivido nos últimos dias e convidar a todxs xs que não nos amedrontamos e temxs nos afirmado ingovernáveis para juntxs seguirmos elaborando, em palavras e em ações, o que juntxs temos vivido.
Essa fala vai assinada por mim só porque a primeira pessoa na escrita coincide com a corporeidade da minha fala em atos nos enfrentamentos com a ordem que temos juntxs experimentado. Qualquer um que queira, pode tomar para si, todo ou em parte esse texto e dele fazer o uso que quiser. Qual será o uso que faremos de tantas enunciações que temos experimentado, encerra o que se encontra em questão. Aquelxs que queremos abolir a presente ordem das coisas, ordem fundada na propriedade privada, já não queremos possuir nossos discursos sob a forma da autoria. O queremos, antes, sob a forma do diálogo prático na crítica prática do mundo presente.

Não se trata aqui, portanto, nem de uma análise, nem de uma reportagem, nem de um relato, nem de um programa. Não quero convencer ninguém, nem ensinar. Apenas me proponho a ser mais uma a dialogar sobre o que juntxs temos feito e com isso contribuir para que sigamos negando as falas das tantas faces do espetáculo. Negar as falas separadas da ação, as falas profundíssimas da consciência autonomizada dos intelectuais de todos as matizes, as falas canalhamente subservientes à ordem dos partidos e dosmass media, as falas insidiosamente ameaçadoras de nossa autonomia dos candidatos a dirigentes.

Tal diálogo pressupõe já uma limitação. Ele é limitado porque se posiciona de um lado claro da barricada. Só pode falar do que vê com a clareza possível àqueles que teimamos em abrir espaços e buscar ar contra os ares irrespiráveis da ordem, ares tornados ainda mais irrespiráveis pelas bombas arremessadas sobre nós!
Essa fala sabe que do outro lado mobilizam-se o capital, a polícia, o Estado, as grandes mídias, os partidos, sindicatos, igrejas e demais formas de expressão dos senhores atuais ou candidatos a senhores, todos expressão da separação mais fundamental que governa o mundo presente: a separação entre os que possuem o poder de decidir o quê, onde e porque produzir e que com isso decidem cotidianamente, no Estado, o quê e como é permitido agir e dizer e, de outro lado, os obedientes. Quebrando essas separações, nós, os ingovernáveis, que resistimos a esses poderes separados sobre nossa vida.

Situado do lado de cá das barricadas, esse texto não pretende ser entendido por todxs e aliás, precisa permanecer incompreensível aos obedientes. Ele se destina apenas aos desobedientes, aos que ousamxs agir e pensar por conta própria e que estabelecemxs, na e pela ação autônoma, os diálogos que tornam a sua ação direta ação comum! Dirige-se, portanto, aos que aprendemos a não ter senhores e a não ser senhores de ninguém.

Esse aprendizado é apenas possível quando a própria pele está em jogo. Em uns poucos dias de barricadas, aprendemos que a diferença entre ser alvo e atacar depende exclusivamente da capacidade de decidir com autonomia e encontrar rapidamente formas e diálogos que se transformam na nossa comum resistência. Aprendemos nos embates generalizados nas ruas, como antes aprendemos nos embates cotidianos, que a criatividade e a astúcia, a autonomia para decidir e nos organizar na contramão dos que nos ordenam (seja quem ordena o patrão, a polícia, os governantes, os candidatos a futuros governantes, o presidente do sindicato, da UNE , dos CAs, DCEs ou grêmios, enfim, quaisquer chefes) depende inteiramente da capacidade de ação que tenhamos. Agir e agir diretamente. Ninguém o fará em nosso nome!
Este texto se destina apenas a todxs os que, vandalxs contra a ordem atual, têm feito tremer o Estado e o capital. Destina-se a todxs xs saqueadores, que têm dito com suas ações diretas que se apropriam do que fora destinado a ser mercadoria e, negando esse destino, abrem a história com usos novos, agora tornados possíveis.

São algumas reflexões para discutirmos, reflexões que se somam a tantas outras maravilhosas reflexões, curtas, longas, com ou sem imagens que temos compartilhado nas barricadas, nas redes, nas assembleias. São contribuições para juntxs elaborarmos a fala da nossa crítica prática, crítica que fala com gestos, sim, mas não só com símbolos. Nossos gestos são já sempre acompanhados da significação e das palavras, mas nunca da palavra abstrata. Nossa ação, enquanto gesticula, fala também e enuncia palavras precisas, mesmo quando curtas, como fez Alisson, que todxs xs que estamos nas barricadas conhecemos, que reconhece sua ação como o CERTO, certo que dissolve a ordem presente, queimando ônibus e destruindo as coisas e, nisso, recusa praticamente o domínio das coisas sobre nós.


Temos falado de muitos e diferentes modos! Colocar nossas enunciações em diálogo para transformá-las nas vozes múltiplas das assembleias e barricadas enfurecidas contra a ordem, vozes múltiplas que, no entanto, se reconhecem na comum negação da ordem atual e nisso ensinam umas às outras que a verdadeira diversidade é aquela que o membro da torcida organizada descobre ao se encontrar montando junto as barricadas com o ativista GLBTT. Nelas, tanto o moralista que identifica a torcida organizada com o fascismo quanto aquele que recusa homofobicamente a experimentação da sexualidade fora da norma hetero, aprendem que do lado de cá da barricada somos muitxs e diversxs e aprendem também que essa convergência de ações que se transforma em convergência de vozes é já a vida de outro modo que queremos ao enfrentar a ordem!

Entre uma e outra festa nas barricadas, entre uma e outra aprendizagem de arremesso, temos experimentado tais enunciações. Esse texto quer apenas, como uma fala das tantas que temos feito, insistir em que precisamos falar, uns com xs outrxs, sobre nós, pois só assim, fazendo juntxs e buscando dizer aquilo que fazemxs, permaneceremos ingovernáveis. Como os caminhos do desejo e da vida são inseparáveis da negação da morte e do gozo, nas barricadas, como no bom sexo, todo o prazer só pode residir em fazer falando e falar fazendo, o exato oposto das separações que aprisionam a vida e o desejo no mundo presente.
Numa palavra, os especialistas que buscam definir, explicar e compreender o que somxs, têm fracassado e fracassarão cada vez mais. Quanto mais ingovernáveis nos tornamos, menos cabemos na fúria classificatória, na fúria unificadora que busca uma manchete, um conceito, um programa.

Aquilo que aos olhos dos especialistas vários é nosso maior trunfo e também nossa maior miséria – o fato de que somos uma congestão desgovernada, que não cabe em pequenas e reformistas pautas como reforma política, constituinte ou PEC não-sei-qual – mostra que o que está em questão, para nós, é a negação da própria representação da vida em que consistem o dinheiro e o Estado, centro do mundo presente.
Que o passe livre universal seja uma pauta que nos move a todxs, é só a mostra de que não mais queremos submeter nossos ires e vires ao dinheiro. Que a recusa aos despejos de moradores para as reformas urbanísticas exigidas pelos senhores do capital e do Estado para a realização da copa do mundo tenha nos levado aos milhares às ruas, é só uma mostra de que queremos nos apropriar em comum dos espaços, usá-los sem submetê-los à lógica do lucro, à dominação dos senhores do capital. Precisamos, como já fazemos cotidianamente nas sabotagens ao trabalho assalariado as mais várias, nos negar continuamente a converter nosso tempo em lucro dos senhores. Para isso, é preciso ir além das greves, é preciso tomar de modo permanente o que nos roubam diariamente: é preciso ocupar e autogerir todos os espaços de produção!

Precisamos generalizar nossa recusa, torná-la permanente e total recusa à ordem atual das coisas! Ousar propor que autogoverno e dissolução da ordem mercantil, que tomar e autogerir todos os espaços das nossas vidas é não só uma tarefa realizável, mas é a nossa tarefa, se verdadeiramente queremos por fim ao roubo cotidiano do nosso tempo e das nossas vidas realizado pelo mercado e pelo Estado, ousar dizer que já não queremos obedecer a ninguém senão a nós mesmos que juntxs inventamos uma nova forma de viver ao negar a ordem presente. Essa talvez seja a nossa principal tarefa nesse momento!
Não sairemos das barricadas! Não nos tornaremos outra vez governáveis! O autogoverno não cabe em plebiscito, nem em reforma política. O Autogoverno é o contrário do Estado, o contrário do mercado! Usar as coisas e inventar a festa das barricadas, feita, como toda festa, também ela de suor e sangue e por isso de coragem! Mas sobretudo feita de desejo, do prazer de inventar uma ordem em comum que não cabe nos limites que hoje o poder nos oferece!



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