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| Manuel "Tiro-certeiro" Marulanda é o 2º a partir da esquerda | 
MENSAGEM AOS POVOS INDÍGENAS, COMUNIDADES AFRO-COLOMBIANAS, CAMPONESAS, URBANAS E POPULARES E ÀS IGREJAS E MOVIMENTOS SOCIAIS E POLÍTICOS
Havana, Cuba, sede dos diálogos de paz, 16 de maio de 2014
Levantamos hoje nossa palavra, com a força do amor a 
favor da reconciliação nacional e, em especial, da unidade de nossos 
povos submetidos durante décadas ao poder cruel das oligarquias.
Nossa voz emerge para chamar, com sentimentos de 
fraternidade e esperança, as organizações sociais, políticas e populares
 em geral, as comunidades afro-colombianas, camponesas e urbanas 
castigadas pela miséria, as igrejas, os jovens e estudantes, as 
mulheres, o movimento LGBTI, as camadas médias, os acadêmicos e 
especialmente os povos indígenas, para além das dificuldades ou 
desencontros que houvéssemos tido em qualquer tempo e lugar, a 
empreender com mais determinação do que nunca, a marcha pela unidade 
pelas transformações radicais que a pátria nos reclama para rumar pelo 
caminho da paz com justiça social, em que todos encontremos o cenário de
 abrigo que  nos permita o bem viver e a concórdia.
Com sinceridade e profundo sentimento de alteridade, 
as FARC-EP clamam pela unidade popular e pela defesa da pátria hoje, a 
partir de uma circunstância em que, com convencimento, assumimos um 
processo de diálogo pela paz pensando em um destino melhor para a 
Colômbia: fato que, por ser anelo das maiorias, é causa que deveremos 
defender como uma só força de mudança.
Necessário é dizer que a paz é o direito síntese que 
está acima de tudo. Se não há paz não há nada; nem sequer país. A 
segurança uribista (do ex-presidente Uribe, 2002-2010) é um ardil que só
 acentua o caos. Não pode haver segurança para todos sem paz.
Queremos ressaltar a importância e o compromisso que 
revestem propósitos necessários, como o de encontrar a coincidência 
política dos setores populares e sua unidade em função da defesa do 
processo de diálogo para a consecução da paz com justiça social, que 
beneficie o conjunto da nação. Este "pòr-se de acordo" em função da paz 
dá início a um caminho de mudança, de aproximação, de portas abertas 
para dar cabida a todos na sociedade e nas instituições. Abrir-se ao 
diálogo para encontrar a verdade, a justiça integral e conseguir a paz 
após setenta anos de violência, impulsiona com maior vigor a marcha sem 
parar do processo constituinte que estamos aspirando.
Vem sendo construindo um processo constituinte após se
 tornar evidente a necessidade de superar a crise da justiça, das 
regiões, da terra e do território, dos recursos naturais não renováveis e
 do meio ambiente, dos órgãos de controle, do congresso nacional. 
Torna-se necessário, então, um ponto de encontro que vá além dos 
diálogos de Havana. Esta dinâmica deve transcender para a materialização
 de um grande acordo nacional que dê vida à Assembleia Nacional 
Constituinte, porque nesta instância histórica do pluralismo e do 
pluriculturalismo, a Constituição deve ser um acordo de convivência que 
interprete cabalmente o tempo presente; deve conter, igualmente, a alma 
requerida para desenvolver a necessária capacidade institucional que 
aposte por assimilar, com sabedoria os tempos que estão por vir.
Mas esta missão é de todos filhos e filhas da Colômbia
 e requer da opinião e do protagonismo de cada setor da sociedade. 
Consequentemente, chamamos as organizações sociais e populares a se 
expressarem. a que intercambiemos em torno de como deve ser o rumo a 
seguir em função desta causa. Vocês têm a palavra.
Nossa contribuição de início é expressar que, no 
caminhar constituinte que felizmente teve início para não ser 
interrompido, o sentimento pluricultural, os diversos povos indígenas e 
afro-colombianos, as múltiplas expressões sociais, como as organizações 
camponesas, estudantis do campo e da cidade, trabalhadores e patrões, 
movimentos políticos, setores informais da economia, crentes religiosos,
 não crentes e demais componentes do tecido nacional, devem ocupar desde
 já seu lugar, sem timidez alguma. Eventualmente, haverá que se aplicar a
 lei pela qual se convoca a sonhada Constituinte. Tal lei teria a 
faculdade constitucional de indicar a composição que haverá de ter essa 
Assembleia. Cabe na norma estabelecer circunscrições especiais para dar 
cabida a comunidades que devem ter presença em seu seio, com urgência 
social e sentido de paz. Tal é o caso dos povos indígenas e 
afro-colombianos e outros setores historicamente submetidos.
As FARC-EP é feitura de povo e, como tal, enfatiza seu
 sonho para que essa construção de unidade se multiplique em cada 
cenário de interlocução das organizações populares, tornando causa 
comum, por exemplo, na luta pelo reconhecimento das Zonas de Reserva 
Camponesa já estabelecidas na lei, na concretização do respeito aos 
territórios ancestrais indígenas e na consolidação de suas reservas, no 
realce dos territórios comunitários das negritudes e dos direitos da 
gente que fazem convergir sua existência nas zonas de realidade 
interétinica e e interultural. Cada povo e cada comunidade devem 
garantir seu à terra e ao território em apoio mútuo, macomunadamente 
que, ao mesmo tempo que reconheça os direitos dos camponeses, reafirme 
os direitos adquiridos dos povos indígenas e afro-colombianos e ofereça,
 por fim, possibilidades de existência digna aos depauperados que 
habitam no campo  e na cidade, no entendimento de que a pátria é de 
todos e é contra a depredação das transnacionais e das burguesias locais
 que devemos defendê-la a partir do mais profundo do nosso ser indígena,
 de nosso ser negro, de nosso ser mulato, de nosso ser mestiço e 
mameluco vilipendiado e que grita com o peito aberto: já basta de tanta 
exploração!
Com a fé absoluta na integração e unidade dos nossos 
povos, com o fortíssimo ideal emancipatório que é o "macro cosmo da raça
 humana", com o imparável caminhar constituinte, com total compromisso e
 esperança na paz, deixamos os braços abertos para estreitarmos com os 
nossos irmãos no convite e na minga da unidade para a ação que nos liberte.
 

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