O congresso nacional custa R$ 16 mil por minuto
Por Thales Schmidt
Descrição do cargo: Senador do Congresso
Nacional. Salário de R$33.700, direito a carro oficial e 25 funcionários
auxiliares, ressarcimento ilimitado de gastos médicos, auxílio-moradia de R$
4.253 e até R$ 45.240 por mês para gastar com alimentação, aluguel de veículo e
escritório, divulgação do mandato, entre outras despesas.
Ser um senador no
Brasil certamente tem suas vantagens –ainda mais se levarmos em conta que
o trabalhador brasileiro recebe, em média, R$ 1.966, segundo a última Pesquisa
Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE. Ou seja, senadores e
deputados federais, que recebem o mesmo salário, têm um contracheque 17 vezes
maior que a média dos brasileiros.
O Congresso
Brasileiro, contudo, não costuma ser o espaço de formação de novos ricos. O
deputado federal brasileiro médio costuma ser: homem, branco, na faixa dos 50
anos, com formação superior, empresário e dono de patrimônio superior a R$ 1
milhão – segundo levantamento do Congresso em
Foco.
Os altos salários e
regalias pesam no bolso do contribuinte. Outra pesquisa do Congresso em Foco mostra que, no orçamento de 2016, cada
deputado federal vai custar R$ 2.023.949,28 ao longo do ano. Como temos 513
deputados, o gasto anual ultrapassa R$ 1 bilhão. “São essas verbas extras que
vitaminam campanhas, que fazem distribuir informações de divulgação de mandato
e que dificultam a renovação nas duas Casas”, afirma Claudio Weber Abramo, vice-presidente
da Transparência Brasil ao UOL.
Mais um estudo ajuda
a entender como é elevado o gasto com a classe política brasileira. A
Transparência Brasil calculou, com base no orçamento de 2013, quanto o
Congresso de 12 países custa a cada minuto.
O congresso nacional consome R$ 16 mil a cada minuto, quantia inferior apenas ao custo do congrsso dos Estados Unidos
Mas, como chegamos
até aqui? No Brasil Império, os deputados não
recebiam para trabalhar. Pelo contrário, era necessário comprovar
renda anual acima 800 mil réis para ser candidato, os eleitores também
precisavam comprovar seus ganhos para poder escolher seus representantes. O
chamado “voto censitário” era uma ferramenta para manter a política na mão de
poucos e longe de grupos indesejados, como a grande população escrava e as
mulheres. Os salários para políticos só chegaram com a República, no final do
século XIX.
Para o cientista
político e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Milton Lahuerta,
o aumento da profissionalização da política no século XX contribuiu para elevar
os custos do jogo partidário. Lahuerta, contudo, resalta que a tendência de
aumento dos custos é mundial, mas o Brasil tem algumas diferenças:
Os exemplos sueco e uruguaio
Claudia Wallin,
jornalista brasileira radicada na Suécia e autora do livro “Um País Sem Excelências e Mordomias”, aponta
como no país nórdico os políticos levam uma vida completamente diferente dos
seus pares brasileiros. “Sem direito a carro com motorista, o que eles recebem
é um vale-transporte para usar os transportes públicos. Nenhum parlamentar tem
direito a secretárias particulares, pensão vitalícia, verbas indenizatórias nem
cotas para divulgação de mandato. Os
gabinetes parlamentares têm, em média, 15 metros quadrados . O
primeiro-ministro é o único político que tem direito a residência oficial e a
um carro conduzido por agentes dos serviços de segurança”.
Wallin acredita que
a transparência do poder público na Suécia contribui para diminuir a distância
entre governantes e governados, além de reduzir as chances da corrupção.“Já em
1766 o país criou a primeira lei de transparência do mundo, e assim está
escrito na Constituição sueca: ‘Todo cidadão tem acesso aos documentos oficiais
do poder’. Na sociedade sueca é possível rastrear os gastos de ministros, deputados,
vereadores ou juízes; ler os emails e as correspondências oficiais do
primeiro-ministro; verificar as despesas do comissário-chefe da Polícia
Nacional ou do Comandante Supremo das Forças Armadas; checar dados do imposto
de renda de qualquer autoridade; saber como os diferentes órgãos públicos estão
gastando o dinheiro dos impostos”, aponta a jornalista.
Já a Lei de Acesso à
Informação brasileira foi criada em 2011 e entrou em vigor em 2012. Ela garante
o acesso a do cidadão à informações do poder público sem necessidade de
apresentar motivo.
Vale lembrar,
também, outras diferenças entre Suécia e Brasil. Segundo a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico ou Econômico (OCDE), a renda média anual
de um sueco é de US$ 28.859, algo em torno de R$ 95 mil. A Suécia é, também, um
dos países com a distribuição de renda mais justas do mundo, enquanto o Brasil
é um dos campeões mundiais de desigualdade.
Na América Latina
também temos um exemplo de zelo com o dinheiro público vindo de um país
vizinho. O ex-presidente uruguaio Pepe Mujica ganhou manchetes internacionais com seu estilo de vida austero.
Durante seu período na presidência, entre 2010 e 2015, Mujica abriu mão da
residência oficial para viver em seu sítio, doou 90% de seu salário para
instituições de caridade e preferiu seguir dirigindo seu Fusca 1987 ao invés de
adotar um carro oficial (confira entrevista exclusiva da Calle2 com Pepe
Mujica).
“Se nós quisermos
setores da sociedade que não têm acesso a recursos por origem social possam ser
representados, é evidente que tem que haver remuneração daqueles que
desenvolvem a atividade política em termos profissionais. A remuneração é
importante porque ela permite democratizar. Senão quem poderia se dedicar à
política?”, alerta Lahuerta.
Como podemos mudar?
Na esteira das
manifestações de junho de 2013,
a então presidente Dilma Rousseff propôs a criação de uma Assembleia Constituinte específica para fazer
a reforma política. Uma Constituinte tem o poder de propor uma reforma ou a
criação de uma nova Carta Magna, a última vez que o Brasil passou por esse
processo foi em 1988, data da chamada “Constituição Cidadã”. No entanto, após
críticas da oposição e da imprensa, a presidente do Partido dos Trabalhadores
recuou de sua proposta.
Para Lahuerta, a
proposta nasceu morta: “Não havia força política para fazer aquilo. Estávamos
na iminência de um ano eleitoral, não era hora para se reformar instituições”.
“Para chegar em uma
Constituinte é preciso um grande
movimento na sociedade, coisa que nós não temos.”
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