Cazuza: Ideologia, Brasil, Burguesia e o Brasil vai ensinar o mundo, o amadurecimento político do poeta
A burguesia fede! Um 
poeta rebelde antes do adeus afirmou. Agenor de Miranda Araújo Neto, 
Cazuza, nasceu na Cidade do Rio de Janeiro em 4 de abril de 1958 e 
morreu no dia 7 de julho de 1990 com 32 anos.
Do primeiro disco com
 o Barão Vermelho em 1982 ao último gravado em 1989, não é só 
refinamento do poeta que é visto. Mas sim o amadurecimento político de 
Cazuza.
O primeiro disco, com o nome de Barão Vermelho trouxe músicas como Down em mim e Todo amor que houver nessa vida, que tem uma visão subjetiva interna do poeta. No segundo disco de 1983, Barão Vermelho 2, aparece a música Pro dia nascer feliz, sucesso do grupo, tocada no primeiro Rock in Rio em 1985 e regravada por diferentes interpretes.
No ano de 1984, em seu último disco com o Barão Vermelho, que teve como nome Maior Abandonado, trouxe como sucessos, Maior Abandonado, Por Que a Gente é Assim? e Bete Balanço, música tema do filme com o mesmo nome, dirigido por Lael Rodrigues.
Em 1985, Cazuza 
inicia sua carreira solo e lança seu primeiro disco com o nome 
Exagerado, que possui como sucessos “Exagerado”, “Mal Nenhum” e 
“Codinome Beija-flor”.
O disco Só se for a dois foi
 lançado em 1987, com destaque para as músicas “O Nosso Amor a Gente 
Inventa (Uma Estória Romântica)”, “Solidão, que nada” e “Ritual”.
A virada do poeta do amor ao político começa em Um trem das estrelas
Em 1987, Cazuza 
descobriu que era portador do vírus HIV. Partiu atrás de tratamento na 
cidade Boston, no New England Hospital, voltando ao Brasil em dezembro 
de mesmo ano e começando a trabalhar em seu novo álbum. Diferente dos 
outros trabalhos que tinham como o enfoque o artista, a vida e o amor, 
os novos trabalhos tinham a reflexão a vida, a política, o Brasil, a 
Ideologia e a revolução.
Cazuza declarou que a
 mudança começou com a composição “O trem das estrelas” que compôs com 
Gilberto Gil para o filme homônimo de Cacá Diegues, que inclusive 
participou como ator.
Em entrevista ao 
Jornal da Tarde, no dia 04 de março de 1988, declarou sobre essa 
mudança. “Eu achava que não podia falar sobre política, por não ser uma 
pessoa política. Eu tinha muito preconceito em falar no plural, achava 
que só falava bem do meu mundinho. Isso começou a mudar quando fiz a 
letra de Um trem pras Estrelas, com a música do Gil, a partir do roteiro
 do filme de Cacá Diegues. Depois conversando com mil pessoas, inclusive
 Gil, pensei por que não mostrar a minha visão, por mais ingênua que ela
 seja? Não sei quanto é a dívida externa, qual é o rombo das estatais… 
não estou por dentro destas coisas, tenho uma visão romântica, mas a 
maioria da população também deve ter uma visão ingênua, então por que 
não me posicionar?”
A composição fala da 
situação das pessoas que vivem em busca “dos salários de fome” e 
denuncia com a estrofe que faz referência ao nome do filme, “Num trem 
pras estrelas / Depois dos navios negreiros / Outras correntezas”, 
colocando que o transporte da miséria continua não nos navios que 
trouxeram escravos da África, mas nos meios de transporte que levam à 
miséria a busca de seus empregos “para não desistir dos seus salários de
 fome”.
 Conheça a Letra – Trem das Estrelas
Em busca de uma IDEOLOGIA
No ano 1988, Cazuza lançaria o terceiro álbum de sua carreira solo e que teria o maior número de sua história com um milhão e setecentas mil copias vendias que lhe valeria o disco de Diamante Duplo.
Na música, Cazuza 
reflete sobre o caráter de sua juventude, “Ideologia fala da minha 
geração sem ideologia, compactada entre os anos 60 e os dias de hoje. Eu
 fui criado em plena ditadura, quando não se podia dizer isso ou aquilo,
 em que tudo era proibido. Uma geração muito desunida. Nos anos 60, as 
pessoas se uniam pela ideologia. ‘Eu sou da esquerda, você é de 
esquerda? Então a gente é amigo’. A minha geração se uniu pela droga: 
ele é careta e ele é doidão. Droga não é ideologia, é uma opção pessoal.
 A garotada teve a sorte de pegar a coisa pronta e aí pode decidir o que
 fazer pelo país, embora do jeito que o Brasil está, haja muita 
desesperança”, em entrevista a Deborah Dumar,  para o jornal O Globo, em
 janeiro de 1988.
Sobre os destinos do 
Rock declarou em março de 1988, a Sônia Maia para revista Bizz, “O rock 
já não é uma coisa da qual se possa debochar… A gente está com uma força
 de palavras, as pessoas estão ouvindo o que o Renato Russo fala, o que o
 Lobão fala… Por mais que cada um tenha caminhos loucos, eles estão 
falando. Somos uma geração muito mal informada – não tivemos 
participação política alguma; estamos chegando aos tropeções. A gente 
nunca teve ideologia…”
 Veja Cazuza – Ideologia
A reflexão política 
começa acontecer nesse disco de Cazuza, a música Ideologia, apresenta os
 diversos símbolos das correntes politicas como o comunismo, 
capitalismo, nazismo, anarquismo, movimento hippie, sionismo, dentre 
outras. Como também aparecem no clipe símbolos religiosos como a cruz 
que representa o cristianismo, yin yang representando o lado holístico 
oriental, dentre outros.
O grito da música reflete o desejo de uma juventude, mas talvez o seu próprio desejo, “Ideologia! Eu quero uma pra viver”.
O disco Ideologia tem
 outros sucessos da carreira de Cazuza como Blues da Piedade, Faz parte 
do meu show e Brasil. Esta última foi sucesso na voz de Gal Costa, 
composta por Cazuza e George Israel, ganhando o prêmio Sharp de melhor 
canção. A canção foi tema da novela Vale Tudo. 
Veja Brasil – Cazuza e Gal Costa
O Tempo não Pára
O ultimo registro ao 
vivo de Cazuza, foi lançado no ano de 88. Gravado no Canecão (RJ) nos 
dias 14, 15 e 16 de outubro, tendo a direção de Ney Matogrosso.
Fazendo uma 
referência a vida, com diversas intervenções do cantor ao longo do show,
 fez uma compilação de diversos sucessos, da época do Barão Vermelho até
 ideologia. Duas novas músicas foram inseridas que foram “Vida Louca 
Vida” de Lobão e Bernado Vilhena, e a música “O tempo não Pára”.
Cantada em primeira 
pessoa, a música fala sobre a luta individual dele e do povo brasileiro,
 da situação social que era imposta no Brasil e o que apontava o seu 
próximo trabalho, “Burguesia”.
 “Eu sou um cara / 
Cansado de correr / Na direção contrária”. Os versos registram a sina 
dos indignados com a resistência do que contradizem a maré imposta pelo 
algoz oculto na música de Cazuza e Brandão. Mas afirma: “Mas se você 
achar / Que eu tô derrotado / Saiba que ainda estão rolando os dados”.
Esse sentimento seria
 registrado em entrevista, para Sonia Maria, em Março de 1989, para a 
revista Bizz. “Aquele show no Palace foi uma coisa muito louca, porque 
eu acho que ele foi histórico para São Paulo… Teve as eleições de 15 de 
novembro e no primeiro de dezembro eu estava lá. E tinha aquele clima de
 euforia, as pessoas querendo acreditar novamente que tudo vai mudar, 
que pode mudar… Tanto que eu considero ‘Ideologia’ , ‘Brasil’, e ‘O 
tempo não pára’ uma trilogia de Sarney ao PT no poder. É uma trilogia de
 esperança… Eu nunca tive medo de falar quando eu estava de baixo 
astral. Acho que a gente não pode ficar ‘tudo bem’ o tempo todo: o mundo
 é ruim, as pessoas são ruins, o mal sempre vence, então tem esse lado 
forte. Mas agora estou numas da corrente do bem. Tô nessa e acho genial.
 Tudo bem: o mal tá lá, as pessoas ruins estão lá, pessoas mesquinhas, 
mas não vão me atrapalhar mais. Não vou mais sofrer por causa delas”.
O desafio sobre esse 
adversário invisível vem com “A tua piscina tá cheia de ratos / Tuas 
idéias não correspondem aos fatos / O tempo não para”, onde os 
sentimentos de libertação e de justiça social. Para mais a frente 
denunciar o preconceito e a corrupção do Brasil com “Nas noites de frio é
 melhor nem nascer / Nas de calor, se escolhe: é matar ou morrer / E 
assim nos tornamos brasileiros / Te chamam de ladrão, de bicha, 
maconheiro / Transformam o país inteiro num puteiro / Pois assim se 
ganha mais dinheiro”.
A desesperança com o 
sistema aparece nas frases, “Eu vejo o futuro repetir o passado / Eu 
vejo um museu de grandes novidades”, mas aponta a mudança e a esperança 
com “O tempo não pára”.
Veja Cazuza – O Tempo não Pára
O inimigo ganha nome: Burguesia!
Se em “O tempo não 
pára”, o poeta ainda apontava um adversário desconhecido. É no seu 
último trabalho realizado na cadeira de rodas, debilitado pelo vírus 
HIV, que declara a Burguesia como inimiga do povo brasileiro. Burguesia 
foi composta por Cazuza, George Israel e Ezequiel Neves.
A canção tem ritmo de
 manifesto. Ela tem três momentos, o primeiro a descrição da percepção 
do compositor sobre a burguesia, o segundo momento que seria a chamada 
do povo para realizar uma revolução, a mudança social de derrubada da 
burguesia e a terceira que seria a caracterização de burgueses que são 
aliados do povo, ele próprio como artista e de profissionais que 
trabalham dignamente.
A evolução de toda 
denuncia social de Ideologia até este álbum vem com a frase a “Burguesia
 fede”, pois compreende que a situação social imposta pela burguesia não
 espaço para a verdadeira poesia. Pois esta é insensível a dor dos mais 
pobres.
A consciência de 
Cazuza ganhou uma ideologia neste período ao declarar nos jornais em 
1989, “Sou socialista e acho que o único caminho para um país do 
terceiro mundo chegar ao primeiro mundo é através do socialismo”.
Veja Burguesia – Cazuza
No ano de 1988 ao 
jornal O Globo, tinha declarado: “Os problemas do Brasil parecem ser os 
mesmos desde o descobrimento. A renda concentrada, a maioria da 
população sem acesso a nada. A classe média paga o ônus de morar num 
país miserável. Coisas que, parece, vão continuar sempre. Nós teríamos 
saída, pois nossa estrutura industrial até permitiria isso. O problema 
do Brasil é a classe dominante, mais nada. Os políticos são desonestos. A
 mentalidade do brasileiro é muito individualista: adora levar vantagem 
em tudo”. E como solução apontava: “Educação é a única coisa que poderia
 mudar este quadro. Brasileiro é grosso e mal-educado, porque não pensa 
na comunidade, joga lixo na rua, cospe, não está nem aí. Este espírito 
comunitário viria com a cultura. Acho que o socialismo talvez possa 
trazer este acesso à cultura de massa. Fazer como o Mao Tsé-tung fez com
 a China. Educar todo mundo à força. Temos que estudar, ler, ter acessos
 a livros”.
O disco Burguesia de 
Cazuza foi um álbum duplo com 20 músicas. O primeiro disco com nove 
músicas trouxe o estilo rock, com músicas como burguesia e como dizia 
Djavan, trazendo parcerias com Rita Lee, Frejat, George Israel, Lobão 
dentre outros parceiros. Nabuconosor foi a única faixa gravada no 
primeiro disco que não foi de autoria de Cazuza, sendo do parceiro, 
George Israel.
O segundo traz o 
estilo MPB com 11 faixas, com interpretações de músicas como: Quase um 
segundo de Hebert Viana, Cartão Postal de Rita Lee e Paulo Coelho, Esse 
Cara de Caetano Veloso, Preconceito de Antonio Maria e Fernando Lobo. 
Além de trazer composições próprias em parcerias com Angêla Rô Rô, Bebel
 Gilberto, João Rebouças, Lobão, Cartola, Leoni e Arnaldo Brandão.
Sobre a parceria com 
Cartola, Cazuza explicou em entrevista ao Globo em março de 1989: “Essa 
música minha com o Lobão eu adoro; Azul e Amarelo são cores do meu 
santo, ogum edé, que é um santo criança, o mesmo santo do Gilberto Gil. 
Com azul e amarelo estou protegido. E temos a parceria do Cartola nesta 
música, – ele diz rindo – porque usamos uma frase sua: ‘Não quero, não 
vou, não quero’.”
Renato Russo faz uma homenagem ao amigo, em um show, ao cantar “Quando eu estiver cantando”, numa clara amostra de carinho.
Veja Renato Russo – Quando eu estiver cantando
O adeus do Poeta e o recado com “O Brasil vai ensinar ao mundo”
A morte veio em 7 de 
julho de 1990. Mas no ano de 1991, lançaram o último álbum com 11 
canções inéditas. Sobras de trabalhos anteriores, nove do disco 
Burguesia e uma do disco “Só se forem a dois”.
Músicas como Camila, 
Camila do Nenhum de nós e Summertime, sucesso na voz de Janis Joplin, 
mas a música de Raul Seixas, Cavalos Calados, refletia sobre sua 
situação nos últimos dias.
Veja Cazuza – “O Brasil vai ensinar ao mundo”
O destaque político 
vai “O Brasil vai ensinar ao mundo” de Cazuza e Renato Rocketh, onde faz
 uma análise política do mundo, dizendo que o Brasil vai ensinar a 
convivência entre as raças, religiões, diferenças. Onde diz que vamos 
ensinar o mundo a tolerância e temos que aprender a respeitar as leis 
com o mundo.
Conheça “O Brasil vai ensinar ao mundo”
Escute Cazuza – Cavalos Calados
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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